terça-feira, 18 de dezembro de 2012

APESAR

Apesar dos pesares,
Escrevo.
Em razão dos pesares,
Escrevo.
E, por mais que pesares,
Não te esqueço.
Enalteço-te em todo
O seu peso.
Por tudo que carregas,
Que agregas e que
Significas...
Utilizo-me de ti
Para aliviar os pesos
Que acorrento a mim,
Cotidianamente.
Por entre os pesares,
Lembro-me de tua existência
E, como bálsamo,
Amenizas minha dor vivente.
De todos os pesares,
Pior seria o de não ter-te
Como amparo e consolo.
Por tantos pesares,
Vingam, fatalmente,
Correspondentes apesares.

domingo, 25 de novembro de 2012


INEVITÁVEL

Quando ausente na presença
Se plasma na língua
Que teima em não querer
Se desmanchar na expressão
Do teu existir
Não há mais como não ser
Não dá mais
É célula cancerígena
É metástase
Sombra das minhas passadas
Legado futuro
Marca cingida antes do fim
Aquilo que está embaixo da concha
Subproduto do cotidiano
Invasão imperialista
Bomba paralisante
Instante perpétuo
Coisa acontecida
Signo do mais
E mais, e mais e mais,
E sempre...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012



Pedaços

Não sei quantas almas tenho
Não há como contá-las
Grãos de areia
Pensamentos
Explicações...

Corolário de insinuações
Mosaico de personas
Carnaval de pierrôs
Vitrais da catedral
Faces em mil milhões.

Uma a cada dia
A cada hora
Pra cada pessoa
Cada uma com sua história
Verdades e mentiras...

Quantas almas eu tenho?
Talvez, somente uma.
Mas não consigo juntar
Seus pedaços.

sábado, 6 de outubro de 2012

Encaixe

Quero poder ser agraciado
Todos os dias
Com a maravilha do seu sorriso.
Te carinhar até que doa,
Esquecer de tudo,
Dividir o mundo com você.
Ser, de verdade,
A partir de agora.
Quero sentir você
 A cada respiração,
Até o fim do fôlego.
Quero me doar pra sempre.
Ser seu meio
Ser seu fim.
Quero estar com você
Pra que tudo
Se complete, assim.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Necessidade


A caneta teima em lutar
Contra o branco do papel
Que se impõe como um
Guerreiro do silêncio.

Uma omissão indicativa
Da aflição, exagero
Do vazio.

As palavras rondam maliciosas
Como à espera da largada
...um simples traço.

Invadem teimosamente
E se instalam
Atraem-se mutuamente,
Em cadeia.

Exigem o desperdício da tinta
Para o preenchimento 
Dos espaços do papel
E enganar
Os vácuos da alma.
Impasses

De impasses
Vivo à toda hora
A todo instante
Isso me devora

Num só passo
Quero tudo
E nada laço
Assim descubro
Passo a passo
Que não passo
De um braço
Afanado
Pelo vil valor
Que é dado
Ao compasso
De um viver
Vangloriado
Exigente
Do meu descaso
Ao querer
De um descompasso

Já não sei
Mais o que
Faço!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012


Yang

Parte de mim que estava
Escondida no além do ser
Estava congelada,
Alma que se plasmou em minha estrada.
Face negra que faltava em mim.
Todo o meu querer a mais
Que eu não podia transbordar
Que eu sabia que existia
Mas se encoquinhava
Perto das moquecas
Nunca antes postas ao fogo.
Pois era chegada a sua hora
De se pôr à mesa.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A vida é uma entidade independente. Existe sem nós, antes de nós, antes de tudo. Nós somos serviçais da vida. Somos meio de transporte, um depósito, um lar temporário.Temos obrigações para com ela e as cumprimos inevitavelmente. Ao nos entendermos donos das "nossas" vidas, esforçamo-nos por mantê-las, sem saber que estamos cumprindo o papel que ela sutilmente nos impõe. Somos peças de um laboratório. Talvez a vida queira encontrar seu invólucro ideal.
Dessa forma,  a vida só é interessante para ela mesma. A vida não nos interessa. E só se fará interessante, se nos fizer sofrer, se nos fizer penar, se nos fizer escapar à constância. Não haveria prazer à vida se nós conseguíssemos tudo o que desejássemos, se fossem simples as realizações, se todos se compreendessem perfeitamente, se descobríssemos todos os segredos do universo, se a paz reinasse, se tudo se encaixasse maravilhosamente, se o amor encontrasse facilmente sua plenitude, se chegássemos rapidamente à felicidade.
Se assim fosse, a vida não precisaria nos usar em seu laborioso intento de descobrir sua composição mais orgânica. Portanto, para nós não há grande diferença em sofrer ou não sofrer, afinal não seríamos nada mais sem a vida. Não teríamos utilidade alguma.


Escurecendo

Irá escurecer
Por menor que seja
A velocidade rotativa
da terra,
Irá escurecer.

Irá escurecer
Por desleixo, por vontade
Por velhice, por maldade
Com certeza e sem piedade,
Irá escurecer.

Irá escurecer
De dia
Ou mesmo à noite
Escancaradamente
E de açoite,
Irá escurecer.

Irá escurecer
Por maior que seja
O medo
E o afã do inverso,
Irá escurecer.

Irá escurecer
Antes que eu queira
Ou depois do que eu espero
Por força da razão
Em razão de algum mistério,
Irá escurecer.

A cada passo lento
A cada fim de verso
Já vai escurecendo
E eu nem me despeço.

domingo, 16 de setembro de 2012


O Pássaro

(A Natássia Guedes)

Estava eu a caminhar distraído
Com pensamentos soltos ou perdidos
Eis que surge um lindo pássaro
E, como quimera, faz em mim seu pouso
Tudo então se renova, transforma, colore
Se havia dor, se dissolve
Se me sentia pesado, torno-me leve
Leve como o pássaro
Então, a cada dia, sinto mais vida
Na companhia do pássaro
Qualquer tristeza é esquecida
Ele faz sorrir minha boca
Brilhar os meus olhos
Balançar minha razão
Corar minha face
E pulsar meu coração
Todavia, por vezes,
Penso se o pássaro não é ilusão
Pois não o tenho no tato
Procuro sua matéria, não acho
Aqui está, só em percepção
Mas sei que é, de fato, real
Pois, com sua chegada,
Passei a andar mais atento
E, na próxima passada, apanhei uma pena
Que estava caída ao chão.



sexta-feira, 24 de agosto de 2012





Não quero mais esse vai e vem, essa intermitência do querer um prazer tão assustador, tão displicente, que me aprofunda no meu não ser. Quero desfazer esse mal feito que se plantou aqui. Ai de mim, se não refizer o meu caminho. Ai de mim, se não reconstruir a minha estrada. Não quero ser isso, não, nem perto disso. A minha janela verdadeira se quebrou e eu me ceguei ante às outras portas. Não! Há algo errado. Quando meu pé pisou em falso, devia eu saber consertar o passo. Não o fiz e andei por atalhos de campos minados. Pisei em bombas. Ainda não me explodi, mas estou perto de tropeçar na granada. Eu sei como encontrar o caminho do vale das flores, só preciso de uma força, e tal força ainda não sei onde está. O que é congênito me é muito mais forte e perverso. Socorro! Não, não, não! Eu mesmo buscarei a chave da felicidade. Eu entrei no labirinto, eu sairei por mim mesmo. Eu sempre fui assim. Me enrosquei, mas sempre achei a saída. Nada há de me cegar. Meu destino é maior do que a vida!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Descoberta

                                     




Queria saber o que mais tenho em mim e que foge deliberadamente ao meu controle, ao meu domínio. Aquilo que não está em mim, mas que é em mim. O que me abre diariamente os olhos. Queria identificar aquilo que, apesar de parecer estar em meu interior, me absorve como algo que se expande sem parar. Aquilo que dilacera tudo por dentro, mas me envolve. Queria poder distinguir o porquê da alegria do porquê da tristeza. Mas parece que tal distinção não há. O porquê é um só. Queria entender minha aflição, as minhas frequentes inexistências ou, então, ter a certeza de que elas é que, na verdade, são o meu existir. Queria encontrar uma via ao nada persistente em mim, o qual me agride sem fim e me destoa aqui. Queria saber o que não me compõe, o que é presente quando ausente estou. Queria radiografar minha alma. Queria um caleidoscópio inverso para alcançar o meu verso. Queria sumir de mim, prostrar-me à minha frente e observar-me do lado de lá, a fim de vasculhar o confuso lado de cá. Queria saber o que agora me dá sono e morbidez, por quê nunca consigo ser somente um, mas dois ou três. Queria saber por quê me abalo sem razão; por quê, quando caio, não levanto do chão; quando choro, só enxugo com as mãos. Queria enxergar o que está tão perto de mim, mas não me é permitido ver; aquilo que pra sempre quero, até quando não tenho porque. Mesmo nesse instante, é isso o objeto do meu querer. Queria uma passagem ao fundo do fundo, ao berço de tudo, ao quarto escuro da criação. Mas se a tivesse, a volta seria ilusão. Queria uma palavra que me desmontasse, que me reduzisse ao desconhecido elemento primário da vida. Queria sentir a estranha sensação de saber o que sou.
Somente queria, pois a realização do desejo não me trará a satisfação. Queria e só queria.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Mão Dupla

                                          



Desisti de querer ser compreendido. Minhas razões são absolutamente minhas e só minhas. Eu sei o que e como vejo, mas quase nada é realmente como parece ser. Não adianta me esgoelar rua afora, não irão me entender. Como dita o provérbio: "coração de gente é terra que ninguém invade, nem com faca de cortar boi". Isso não é uma queixa, é uma constatação.
Meu vão afã é sempre alcançar o entendimento alheio, como que por afirmação. Mas o outro é distante, está na outra margem do rio. Não há ponte alguma e eu não sei nadar. Há, sim, um caráter narcisista nesse meu desejo, necessidade humana rasteira de imposição. Terrível! Por isso, é inútil lutar, existem forças igualmente desejosas vindo em sentido contrário. Todos constroem suas razões, não há espaço para intervenções ou convencimentos. Portanto, hoje percebo que é preciso parar. Devo redirecionar meu anseio, acho que vou tentar a mão inversa.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Fênix



Eis que ressurge a alma voadora. Eis que os pensamentos se desencavam. Não estava morto, apenas anestesiado. Acordei! Acontecimentos são preciosos. Ora nos derrubam, ora - logo, logo - nos elevam. É bom saber que a vida nos surpreende a cada instante e que seu relógio nunca quebra. Viva a alma humana! Há pessoas maravilhosas ao nosso redor, só que reconhecer as odiáveis parece mais fácil. Porém, quando conseguimos tal prazer de garimpeiro, o espírito agradece e o desejo se renova. Volto ao prazer da minha escrita fulgurante de alegria. Estou varrendo as cinzas.