A vida é uma entidade independente. Existe sem nós, antes de nós, antes de tudo. Nós somos serviçais da vida. Somos meio de transporte, um depósito, um lar temporário.Temos obrigações para com ela e as cumprimos inevitavelmente. Ao nos entendermos donos das "nossas" vidas, esforçamo-nos por mantê-las, sem saber que estamos cumprindo o papel que ela sutilmente nos impõe. Somos peças de um laboratório. Talvez a vida queira encontrar seu invólucro ideal.
Dessa forma, a vida só é interessante para ela mesma. A vida não nos interessa. E só se fará interessante, se nos fizer sofrer, se nos fizer penar, se nos fizer escapar à constância. Não haveria prazer à vida se nós conseguíssemos tudo o que desejássemos, se fossem simples as realizações, se todos se compreendessem perfeitamente, se descobríssemos todos os segredos do universo, se a paz reinasse, se tudo se encaixasse maravilhosamente, se o amor encontrasse facilmente sua plenitude, se chegássemos rapidamente à felicidade.
Se assim fosse, a vida não precisaria nos usar em seu laborioso intento de descobrir sua composição mais orgânica. Portanto, para nós não há grande diferença em sofrer ou não sofrer, afinal não seríamos nada mais sem a vida. Não teríamos utilidade alguma.